domingo, 6 de maio de 2012

Entrevista Coletiva sobre o crack

O CRACK, POR NÓS.



Problema social, de saúde? Chaga, mazela, armadilha criada para a disseminação dos mais fracos? 

Apresentamos a entrevista coletiva sobre o crack, respondida por alguns grupos, artistas e personalidades influentes do rap nacional. 

Nós como cidadãos, preocupados com o uso abusivo e problemático de drogas e consequentemente preocupados com os problemas associados às políticas públicas no enfrentamento do uso de drogas, devemos também participar de discussões e disseminação dessa questão que está diretamente ligada ao nosso dia a dia.

 Por: Looh.




Sabe-se que existem usuários de crack de diferentes classes sociais. Mas é certo que a população miserável só pode comprar o crack, devido à vunerabilidade social dessa classe? Crack, pobreza e população em situação de rua são situações que se misturam e contribuem para o uso da droga?

- ICA (Instituto Caminho das Artes): O poder destrutivo desta droga é superior ao da maioria das substâncias ilícitas, devido ao seu fácil acesso, alta letalidade e precocidade do primeiro uso, atingindo atualmente todas as camadas sociais, tornando um dos mais preocupantes problemas de saúde pública no mundo. Contudo, devido o seu poder altamente viciante, estimulados pelo baixo custo, o crack tem um mercado cativo nas áreas periféricas dos grandes centros urbanos.

- Chamas (Voz sem Medo): Não. A resposta já está no próprio enunciado: o uso desta droga independe da situação de vulnerabilidade social.  Infelizmente, os mais carentes - nossas crianças, jovens e adultos - são potencialmente vítimas mais frágeis dentro do processo de drogatização. Porém, eles não são vítimas apenas do Crack. É importante que se diga que existe uma infinidade de drogas de baixa qualidade e preço reduzido, expostas à população “miserável” que vive nas ruas. Drogas que vão desde a cola de sapateiro à cachaça. Não quero fugir do foco que é o Crack, porém, advirto que o mesmo não é o único entorpecente barato e de fácil acesso a comunidade carente, seja aqui ou em qualquer parte do Brasil. Para concluir, não resta a menor dúvida que a exposição diária à situação de abandono nas ruas, potencializa o uso do Crack. Infelizmente, a droga da “moda”!

- Markão Aborígine: É interessante, primeiramente, analisarmos o contexto social que produz situação de rua e pobreza. A conjuntura brasileira de violação de direitos, que não oportuniza às famílias o cuidado à saúde mental e/ou acesso à educação e trabalho, alicerçada pela elite, é a principal causadora. Cito isto, pois, atuando com famílias nesta situação identificamos estes aspectos como principais condutores à situação de rua e drogadição. Ao aprofundarmos o tema vimos que o berço do consumo de crack praticado por uma criança está numa mãe alcoólatra que não teve acompanhamento à sua saúde mental, ou seja, não lhe foi oportunizado o tratamento adequado, pois não há CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) suficientes no país, além do que, o contexto machista e sexista brasileiro fez desta, uma mãe solteira e expulsa de casa pelo pai, sem acesso à Pensão Alimentícia e creche para que possa trabalhar e sair para sustentar sua família. Nossas crianças ficam sozinhas em casa, assim como as crianças ricas crescem sem a presença dos pais, porém, nossas mães cuidam dos filhos deles. Aqui as crianças não usufruem de atividades esportivas e educativas em contraturno escolar, como já citado, não há creches, não há acesso à cultura através de teatro e cinema, somente acesso à cultura individualista e consumista pregada pela televisão. Tal situação de risco e vulnerabilidade social, assim como a situação de rua, viabilizam a aproximação e logo o consumo de álcool, tabaco e outras drogas. O consumo das drogas atinge diferentes classes sociais, mas enriquece apenas uma, a mesma que possui acesso às clínicas de tratamento e a informação.

- Jéssica Balbino: Acredito que isso influi, mas não são somente estes fatores. O tráfico é politizado e predatório. Há influências grandes e muito poderosas, políticas e fortes, que injetam dinheiro e esforços para que o tráfico seja cada vez mais sedutor e a consequência disso, são cada vez mais famílias desestruturadas, miséria e pessoas cada vez mais novas ingressando no universo das drogas. É como um ciclo, em que os poderosos contribuem para a ignorância da população e, por conseguinte, para o aumento do uso. Em minha opinião, um excelente caminho para este combate atuaria em duas frentes: erradicação da fome e da ignorância, ou seja, pelo fortalecimento da educação.

- Japão (Viela 17): NÃO EXATAMENTE. A compra da substância vem de diferentes classes e está ligada mais diretamente com os problemas familiares (base). Hoje em dia as comunidades estão fortalecidas financeiramente em comparação com anos passados. SIM, o crack se tornou um refúgio para os usuários, sendo um fio condutor para “esquecer” problemas sérios e destruindo suas vidas.

- MC Ahoto: São várias as portas de acesso as drogas, mais não se pode negar que a pobreza é a porta principal para o uso do crack. É a felicidade instantânea oferecida por tão pouco.

- Daher (Guind´art 121): Pessoas de ruas são vítimas como todas outras que usam quaisquer tipos de drogas.




A situação da família é tão agressiva que é um alívio para a criança e o adolescente estar fora de casa?

- ICA (Instituto Caminho das Artes): Essa situação não é novidade para ninguém. Situações como estas, encontramos em diversas famílias do mundo, independente do seu estado social ou formação, em grande parte, o jovens em situação de vulnerabilidade social são tratados no universo familiar com o mesmo descaso que fora dele. A repressão já provou não ser eficiente em nenhuma circunstância. Desta feita, eu comungo com alguns estudiosos da matéria que as estratégias no combate a expansão do crack deve, mesmo dentro do berço familiar, antes de tudo estar interligadas a inclusão, reinserção e preservação da auto-estima do dependente.

- Chamas (Voz sem Medo): No caso das crianças e adolescentes que sofrem maus tratos constantes, sim. É melhor estarem nas ruas com os seus “iguais” irmãos sofredores, mesmo que numa situação de alto risco, do que ao lado de pais e mães violentos, passado em suas casas, toda sorte de agressões físicas, psicológicas e necessidades alimentares. Estes jovens, por conta da falta de estrutura familiar e pela omissão e má organização do Estado e da Sociedade Civil, que peca através dos órgãos e instituições nada competentes; não criando os meios para evitar tal problema. Há de se responsabilizar os culpados, quer seja a família, quer seja o próprio Estado, pela falta de ação e pelo não cumprimento da lei. A saber, o ECA e a própria Constituição.

- Markão Aborígine: Qualquer situação já é grave. Se o Crack e outras drogas fossem apenas de uso das periferias, possivelmente não haveria tal “repressão”, divulgação e “preocupação”. A falta de fiscalização nas fronteiras, sobretudo, a falta de combate a corrupção (leia-se desvio de recurso do SUS e SUAS e educação) são mais graves.
A omissão e estagnação do governo brasiliense e nacional são graves. Até então só foram discussões e pouca prática em relação ao combate ao crack, tratamento de dependentes e fortalecimento social, econômico e afetivo junto às famílias.

- Jéssica Balbino: Sem dúvida. E a situação se agrava cada vez mais. Crianças fora de casa, com o fácil acesso às drogas e a fuga que estas representam, constituem “famílias” cada vez mais cedo, no entanto, são também famílias desestruturadas e aí entra o ciclo que falei anteriormente.

- Japão (Viela 17): O crack faz com que o adolescente momentaneamente se esqueça dos problemas familiares, fazendo dos usuários um “esquecido” diante dos problemas.  As complicações maiores vem logo após o primeiro uso, mas a aproximação com o crack não é única exclusivamente por problemas familiares, existem vários fatores.

- MC Ahoto: São casos e casos, cada pessoa uma reação, cada casa uma reação. O fato de sair de casa é simplesmente o vicio pela droga e a família não ter acesso nenhum a como reagir a isso. São raríssimos os meios de informação que ensinam algo, de como se prevenir de casos assim, falta diálogo.

- Daher (Guind´art 121): Na cabeça do adolescente, os pais são agressivos sendo que na verdade querem preservar a sua integridade. Eles vão, mas sempre voltam.




Para o grupo/artista a situação do aumento do uso do crack na zona central do DF e em suas cidades já pode ser considerada grave?

- ICA (Instituto Caminho das Artes): Os números mais recentes divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) estimam que até 1,2% dos brasileiros sejam usuários do crack. Cerca de quase três milhões de pessoas estariam reféns desta droga no Brasil. O número oficial de viciados em crack no Distrito Federal ultrapassa essa marca com mais de 30 mil jovens, ultrapassando proporcionalmente a média dos outros estados. Segundo cálculos da ONU, o mercado de crack movimentou cerca de 100 bilhões de dólares somente em 2009.

- Chamas (Voz sem Medo): Nós do VOZ SEM MEDO e eu, Chamas, em particular, acompanhamos o crescimento do uso Crack no Brasil desde o início dos anos 90 . Antes, restrito aos grandes centros de São Paulo e Rio de Janeiro. Na virada do milênio o problema se alastrou! Nestes últimos 8, 10 anos, o Crack definitivamente ocupou, aqui no Distrito Federal, o lugar da merla como droga preferida das crianças, jovens e adultos. No centro de Brasília, de quatro anos para cá a situação passou a ser crítica.

- Markão Aborígine: Qualquer situação já é grave. Se o Crack e outras drogas fossem apenas de uso das periferias, possivelmente não haveria tal “repressão”, divulgação e “preocupação”. A falta de fiscalização nas fronteiras, sobretudo, a falta de combate à corrupção (leia-se desvio de recurso do SUS e SUAS e educação) são mais graves. A omissão e estagnação do governo brasiliense e nacional são graves. Até então só foram discussões e pouca prática em relação ao combate ao crack, tratamento de dependentes e fortalecimento social, econômico e afetivo junto às famílias.

- Japão (Viela 17): O uso do crack está em estágio avançado causando problemas a todos os centros urbanos e comunidades, a tal ponto de não somente ser um problema de saúde pública, mas uma epidemia em massa.

- Daher (Guind´art 121): Todos os grandes centros estão nas mesma situação. Claro que é grave pois se trata de vidas sendo perdidas.



Qual a opinião do grupo/artista, sobre as denúncias de supostas torturas, abusos psicológicos e sexuais cometidos por    PM´S do DF à usuários de crack da Zona Central de Brasília? Crianças e adolescentes supostamente espancados no “quartinho da tortura” na Rodoviária do Plano Piloto e amarradas pelas mãos e pés, sendo jogadas da Ponte JK?

- ICA (Instituto Caminho das Artes): O crack assusta e revela uma policia despreparada, não só em Brasília, mas em quase todos grandes centros urbanos do Mundo. Quanto aos fatos anunciados, acredito na discriminação, na intolerância, na truculência de parte de nossa força policial, mas a tortura é inaceitável. Precisamos fortalecer as policias estaduais para o enfrentamento do crack em nossa cidade.  Entretanto as estratégias de Segurança Pública no combate a expansão dessa droga deve antes de tudo estar interligadas em uma abordagem mais ampla, com foco no desafio social (inclusão social, reinserção e preservação da auto-estima do dependente) e, principalmente na saúde pública. Devemos ter em mente, que além do estigma que sofre da sociedade, o dependente químico ainda é alvo de descriminação, até mesmo familiar. Em primeiro lugar precisamos separar as figuras penais do traficante e do usuário. Sou a favor de que o tráfico de drogas seja considerado um crime hediondo, portando inafiançável e sem anistia. Com relação aos usuários sou contra a qualquer penalidade, mas sou completamente a favor da internação compulsória.

- Chamas (Voz sem Medo): A princípio, é bom que se diga que a violência e o abuso de poder por parte das autoridades policiais sempre existiu. Se ela não foi devidamente investigada e punida, foi por pura conveniência. O VOZ SEM MEDO, legítimo grupo de Rap Nacional, tem como filosofia lutar contra toda e qualquer forma de abuso físico, psicológico e sexual, principalmente, quando estes abusos envolvem crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade. Para nós, todos os envolvidos devem ser imediatamente afastados de suas funções. A investigação deve ser feita com isenção e lisura e transparência, acompanhada pelo Ministério Público e pela sociedade. Os julgados culpados civil e criminalmente, devem ser expulsos da corporação e presos.

- Markão Aborígine: Eu poderia citar que enquanto não houver um bom preparo da Polícia Militar estas situações vão se repetir, porém não cometerei tal erro, pois este é o dever dela: higienização social e controle popular. Não dá para esperar tratamento diferente enquanto não ocuparmos espaços nos Conselhos Comunitários de Segurança, por exemplo. Enquanto não conhecermos nossos direitos, não conseguiremos defende-los. Aí temos um papel chave – enquanto Hip Hop. Somos comunicadores e comunicadoras, devemos dialogar com os agentes de segurança e políticos, propor alternativas, e, sobretudo voltar à base: ser povo. Mas a respeito do ocorrido, é necessário que haja investigação e punição exemplar dos envolvidos e envolvidas. São denúncias gravíssimas que não podem ficar apenas nas gavetas da corregedoria.

- Japão (Viela 17): As ações policiais vêm não somente com os usuários de crack na zona central de Brasília, mas com todos jovens e adolescentes que circulam pelo centro com atitudes suspeitas. A policia Brasileira nunca se preparou para ações com usuários por meio de outros processos que não sejam a truculência e repressão.

- MC Ahoto: A policia não só no DF mas em todo lugar é sempre olhada com maus olhos, assim como existem bons médicos e maus médicos, bons advogados e maus advogados. As coisas não podem ser generalizadas, existem policiais e policiais, porém devem-se abrir os olhos para casos assim, como para todos os outros casos de má conduta do serviço prestado. A policia é treinada para criminosos, se encontram usuários viciados, muitas vezes não sabem agir. A policia não é preparada pra isso.

- Daher (Guind´art 121): Não estava sabendo destas coisas, mas se for verdade, é a cara da maioria desses policias, (covardes).





Qual a opinião do grupo/artista, sobre a história do médico Marcelo dos Santos Clemente, que largou a profissão para morar na cracolândia dedicando-se ao tratamento dos usuários de crack, e que subitamente morreu aos 27 anos?


- ICA (Instituto Caminho das Artes): Acredito que as dependências químicas em geral é antes de tudo uma doença, físicas e psíquicas, e esse atrelamento está fortemente associado às doenças como esquizofrenia, o transtorno afetivo bipolar até a ansiedade generalizada. Devido à alta letalidade do crack, considerado por alguns estrategistas militares como arma química, o uso prolongado pode levar o dependente à depressão, psicose maníaco – depressiva, pânico e comportamentos anti-sociais, com a perda gradativa do autocontrole, do poder de decidir e da força de vontade. Acredito que o Doutor Marcelo tenha sido vitima da falta de estrutura para lidar com esses enfermos que necessita de aparelhamento e de cuidados 24 horas por dia.

- Chamas (Voz sem Medo): Fiquei comovido. Principalmente pelo gesto altruísta deste homem impressionante! Este médico sim merecia todas as honras ao mérito que um cidadão possa receber do país ao qual pertence. O Doutor Marcelo não teve medo de se expor ao perigo do submundo das drogas e todas as suas consequências. Para mim ele é um HERÓI SOCIAL DO BRASIL! Cumpriu magnificamente o Juramento Médico daqueles que adentram a profissão: curou e salvou vidas!  E ainda serviu de exemplo!

- Markão Aborígine: O jovem Dr. Marcelo deixa uma mensagem importantíssima: a humanização do atendimento aos usuários crack. Seu envolvimento e doação à Cracolândia também são referencias a nós. Hoje criminalizamos e demonizamos aqueles que se encontram nestas condições. A história dele deve ser conhecida, debatida e sobretudo vivida!

Markão Aborígine
aboriginerap@gmail.com

- Jéssica Balbino: Admiro pessoas que fazem isso. Pena que são poucas. Ele doou a vida pela causa e isso é lindo. Se tivéssemos mais Marcelos no país, talvez a situação não fosse tão gritante.

- MC Ahoto: Algumas pessoas tem coragem de se desprender do ‘’mundo’’ para serem humanas de verdade. Mais um exemplo de herói.

- Daher (Guind´art 121): É um bom exemplo para nós todos sabermos que existem pessoas que abrem mão da própria vida para ajudar o próximo.




O Rap pode ser um instrumento   de conscientização, um alerta a esses jovens usuários ou em situação de miséria que são mais vulneráveis ao uso do crack?

- ICA (Instituto Caminho das Artes): O adolescente (12 a 18 anos) em situação de vulnerabilidade social (em situação de uso e/ou tráfico de drogas; com baixa escolaridade; baixo acesso ao mercado de trabalho; com atividade sexual precoce e de risco e exposto à violência doméstica e/ou urbana) tem sua auto-estima baixa e poucas chances de entrar no mercado de trabalho, já que é marginalizado pela sociedade. O que cria um círculo vicioso: em que o adolescente é seduzido ao uso das drogas porque não encontra respaldo do grupo social, e a sociedade o marginaliza cada vez mais porque este é levado pelas práticas criminosas.  Desta forma, qualquer ação que se dedique a resgatar o adolescente em risco deve considerar o seu alto grau de indignação e rebeldia, pois estes são constituintes do momento difícil em que este jovem vive.  Por sua vez, este grupo de risco social tem uma má relação com a escola formal, visto que a instituição de ensino tem uma hierarquia rígida e totalmente verticalizada; o que cria, na maioria das vezes, uma relação autoritária em relação aos estudantes. Assim, os adolescentes em risco social acabam tendo a imagem de que a escola é outra esfera opressora e de subordinação, onde este jovem não se sente seguro para expressar suas carências ou questões existenciais e, então, ele também a rejeita, demonstrando toda sua rebeldia com a comunidade escolar. O desafio é conseguir despertar a atenção e a confiança desses jovens, portanto a notoriedade e os discursos rítmico dos hip hoppers, somados a linguagem fácil de entender e as poesias rimadas e embaladas pelo ritmo envolvente, fazem da comunidade Hip Hop o melhor canal para dialogar com esse público no sentido de conscientizá-los a trilhar um caminho de socialização e de construção social, por eles falam de igual para igual.

- Markão Aborígine: Não só pode como tem que ser. Mas deixo claro que nada valerá lutarmos tão somente contra o crack se em nossas canções continuarmos citando o álcool e o cigarro, como padrão de alegria. Estes matam e viola muito mais que o crack. Precisamos, assim como qualquer tema, estudo e aprofundamento antes de falarmos ou cantarmos. A elite brasileira tem consciência que nos privando de acesso a informação nos manipulará e dominará sem esforços, cabe a nós lutarmos contra tal opressão.

- Jéssica Balbino: Acredito que sim, no entanto, o rap/hip-hop não podem ser os únicos responsáveis pelo resgate dos jovens usuários de crack e/ou outras drogas. É complicado pensarmos que um movimento cultural pode ser o bote salva-vidas disso tudo, mas sem dúvida, acredito na transformação pela arte, então, culturas como o hip-hop podem representar uma porta, uma bóia, algo em que o jovem pode acreditar e lutar, além da droga.

- Japão (Viela 17): Em tudo que se trata de comunidade, drogas, repressão e conscientização o RAP está inserido como fio condutor, levando críticas e em alguns casos, levando solução.

- Daher (Guind´art 121): Com certeza o rap é a ferramenta que tem mais eficácia junto as comunidades mais carentes, pois a maioria dos jovens periféricos ouve e entende a mensagens dos rappers.




O grupo/artista exerce alguma atividade ou projeto visando o combate ao crack?

- Markão Aborígine: Desde meados de 2005/2006 desenvolvo oficinas e palestras em escolas públicas no Distrito Federal e entorno, onde abordo o consumo de álcool e tabaco e a criminalização da juventude e periferia. Lançamos músicas, informativos e recentemente um vídeo de animação destinado a crianças, entitulado “Viúvo”. O mesmo será distribuído gratuitamente as escolas públicas de Samambaia. Além disto, desde dezembro de 2009 atuo como Conselheiro Tutelar na cidade Estrutural, onde atuamos diretamente com famílias, crianças e adolescentes em tal situação.

- Jéssica Balbino: Não necessariamente, embora eu seja uma pesquisadora do tema e atue em oficinas literárias e de hip-hop para crianças e jovens em situação de risco no CRAS da cidade onde vivo, Poços de Caldas – MG.

- Japão (Viela 17): Várias ações já estão sendo praticadas no DF. Temos o Hip Hop contra o Crack que a partir de maio sairá um pouco do palco para ações em escolas, presídios e grandes centros urbanos. O projeto tem a intenção de ser levado a vários estados Brasileiros ainda este ano. Informações no site www.japaoviela17.com.br ou www.raphours.com.br

- MC Ahoto: Estamos terminando de montar uma ONG que vai cuidar de crianças viciadas na praça do DI em Taguatinga-DF, além de oferecermos oficinas para as crianças daqui. Se cada um fizer um pouco, o mínimo, não vai se precisar do governo.

- Daher (Guind´art 121): Fazemos parte do projeto Hip Hop Contra o Crack que já esta sendo visto como o maior projeto dentro do movimento do país. É idealizado pelo ICA (Instituto Caminho das Artes).

- ICA (Instituto Caminho das Artes): A comunidade Hip Hop de Brasília, materializada nos grupos - Guind’art 121, Viela 17, Tropa de Elite, Cirurgia Moral, Tribo da Periferia, Atitude Feminina, Voz sem Medo, Pacificadores, Liberdade Condicional, entre outras,  preocupados com os índices de violência envolvendo jovens e adolescentes em todo o Distrito Federal, especialmente nas áreas periferia das cidades satélites, tem promovido um projeto intitulado de “HIP HOP CONTA O CRACK”, com o propósito da busca por novas alternativas de produção com o objetivo de movimentar e sensibilizar a sociedade para a problemática das drogas no Distrito Federal, envolvendo a comunidade Hip Hop como instrumento de comunicação para promover uma ação organizada de conscientização coletiva em favor de um pacto pela valorização da Vida, interferindo diretamente na transformação social dos jovens vitimados pelo uso das drogas, retirando das ruas, do tráfico, das gangues e da prostituição.

Os mais de 100 milhões de acessos que as músicas dos 16 grupos locais associados ao projeto “HIP HOP CONTRA O CRACK” somados têm postados na internet, pelo site do youtube, provam que o Movimento Hip Hop de Brasília é uma realidade além de nossas fronteiras. E como tal, se capacita como veículo formador de opinião para persuadir os jovens nesta luta contra a disseminação das drogas não só na Capital, mas de todo o Brasil.

Cumpre ressaltar que o referido projeto foi concebido em forma de um encontro de culturas urbanas (apresentações artísticas, palestras, oficinas de criação, encontros culturais, talkshows nas escolas públicas, compartilhamento de experiências e saraus) que está percorrendo todos os cantos do Distrito Federal, principalmente nas áreas de risco, com o compromisso em transformar manifestações culturais de rua em empreendimentos sociais que combatem à ociosidade, à inércia, à exclusão social e, sobretudo, a marginalização. Mas também que evite a estigmatização dos adolescentes e jovens envolvidos com o consumo do Crack, por meio da orientação a superação dessa realidade, inclusive nas escolas, pois a educação é uma das principais ações de prevenção do consumo entre crianças e adolescentes pela formação de uma cultura menos vulnerável ás drogas. Por meio da música, da dança, do grafite, dos DJs, e especialmente pelos discursos rítmicos de nossas poesias, o hip hop se transforma na voz da periferia e pode promover uma revolução que resgate a auto-estima desta parcela da população. Com isso, acreditamos que com o comprometimento dos rappers, neste ambiente fica mais fácil lutar na guerra contra todo tipo de violência urbana, em especial contra as drogas.


Mensagem aos jovens do DF e entorno, fãs, famílias e usuários de crack, de conscientização e motivação, para o não uso da droga.

- ICA (Instituto Caminho das Artes): A dependência química por estar também atrelada às doenças mentais, a estratégia de tratamento é definida caso a caso para cada enfermo, que deverá considerar o tempo de uso, a idade, o sexo, a formação e, inclusive a realidade econômica. Para cada caso deve haver um diagnostico especifico. Os médicos estimam ser necessário uns 12 meses de tratamento, que pode chegar, em alguns casos, até 3 anos.   Devido o seu poder altamente viciante, estimulados pelo baixo custo, e fácil acesso, as internações são imprescindíveis, mesmo que compulsoriamente, pois o usuário de crack sem o tratamento adequado é um risco para si mesmo e para a sociedade. A minha mensagem é para família e para os amigos, pois eles são fundamentais para que os dependentes se mantenham motivados e compromissados com o tratamento recebido. No entanto, às vezes o universo familiar dessa população pode ser disfuncional para recuperação do enfermo, neste caso é necessário o apoio psicológico. Então, em nome da preservação da vida do seu ente querido, interne-o, mesmo que ele não queira buscar a reconciliação com sua saúde. Tenha fé em Deus, e acredite, essa enfermidade está tendo um propósito à vida dele.

- Markão Aborígine: Assim como nos palcos proponho que combatamos a omissão e negligência tão presente em nós; peço a você que está lendo está matéria, que conhecendo criança ou adolescente em situação de drogadição procure um Conselho Tutelar em sua cidade, um CRAS ou CREAS. Indique a família aos AA – Alcoólicos Anônimos e NA – Narcóticos Anônimos. Estes espaços orientam as famílias e comunidade como lidar com a situação. “Quantas, quantos? Que nesta noite adentraram seus lares e ao invés de trazer alegria, fartura, bênçãos, trarão somente a tristeza, pranto, sofrimento. Quantas, quantos? Nesta noite serão encontrados aos pedaços dentro carros devido o acidente provocado pela embriaguez Quantos nesta noite provarão o álcool pela primeira vez?” Pretérito Imperfeito

Fica ainda o convite a nos assumirmos como livres. NÃO PRECISAMOS DE TRAGOS E DOSES, ESTES NÃO TRAZEM ALEGRIAS, APENAS ALGEMAS. Estou cansado de ver amigos de infância morrendo de overdose, outros morrendo após acidente de trânsito devido a embriaguez. Chega! Temos exemplos suficientes para nos distanciarmos, não basta?


- Jéssica Balbino: Sou uma otimista e discutir o problema já é um avanço. Ainda não é necessariamente o que precisamos, mas é um avanço, sem dúvidas. Como já disse, acredito na transformação pela arte, pela educação, pela informação e pela erradicação da fome. Sonhar é preciso e ter mecanismos para realizar estes sonhos, ainda mais. Portanto, parabéns para iniciativas como o “Hip-Hop contra o crack” e revistas como esta. Estamos juntos nessa luta para remover as “pedras” do caminho. Obrigada, Jéssica Balbino, jornalista e escritora.




- Japão (Viela 17): Dizer “diga não as drogas” não resolverá nada, então a mensagem é somente: VIVA ENQUANTO HÁ TEMPO E DESVIE DO ZAGUEIRO!
http://japaoviela17.com.br/2012/03/musica-tema-do-projeto-hip-hop-contra-o.html

- MC Ahoto: União e nunca desacreditar. O poço nunca é tão fundo que alguém não possa te ajudar a voltar à superfície!

- Daher (Guind´art 121): Pedir para os pais trabalham fora, que não podem acompanhar os filhos ao dia, que conversem muito com eles orientando que o crack leva à morte, e que estes, escutem seus pais.

















3 comentários:

  1. Parabéns... nessas letras (da entrevista) podemos sentir vida pulsando... Passei a ser seguidora deste blog a partir de agora.

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  2. Exelente trabalho, é de suma importancia que todos os grupos estejam enganjados a cerca de debater e opinar sobre o assunto (Dragas), é de reponsabilidade dos movimentos sociais debatar e atuar no combate a este mau que assola a periferia do todo brasil, uma vez que o governo não faz sua parte, nos devemos fazer a nossa

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